terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Artigo Publicado na Revista Estilo Zona Sul - 12ª Ed. 2012



Cultura, Consumo e Envelhecimento
Jeanine Bender de Paula
Advogada e Professora Universitária

O Brasil está envelhecendo. Dados do IBGE apontam para uma transição demográfica que vem modificando a estrutura etária da população brasileira. O motivo maior está na diminuição das taxas de natalidade e o aumento da tecnologia na saúde. As práticas de consumo na Terceira Idade estão diretamente relacionadas a esse envelhecimento demográfico, mas respondem também a como a sociedade se comporta em relação aos idosos considerados desvalorizados e vulneráveis.
Sabemos como a velhice é vista em nossa cultura com diversos adjetivos depreciativos, pois no imaginário emocional da população o termo velhice é tido como decadência, decrepitude e perda da dignidade, ao contrário de outras sociedades que os definem e valorizam como indivíduos com um grande conhecimento e sabedoria. Por outro lado, a cultura do consumo contemporânea está transformando velhos ditados de que o idoso já se resignou em relação às traições do próprio corpo, apresentando meios que possam demonstrar a vitalidade, a juventude e ainda serem considerados atrativos.
E é diante desse aumento progressivo da população idosa que a publicidade, considerada símbolo do consumo, tem enxergado um novo nicho em expansão, pois o lazer, o turismo, o crédito já se encontram na órbita desse público que tem se mostrado exigente. A mídia, através da publicidade, é um dos fatores preponderantes na determinação do comportamento dos indivíduos em relação ao consumo, pois ‘induz’ as necessidades destes consumidores, porém, trabalha considerando o conjunto da realidade econômica e cultural, isto porque os desejos de consumo não são naturais, e sofrem modificações constantes.
E o consumo consciente na terceira idade? Segundo algumas pesquisas as pessoas acima dos 60 anos apresentam uma maior experiência de vida, sendo capaz de formar percepções instantâneas dos produtos e serviços, contudo precisam de um tempo maior para entender realmente o que quer o fornecedor. É nesse contexto acerca da modernidade, mercantilização das relações sociais e publicidade que se torna relevante pensar as transformações que ocorrem com o envelhecimento e as imagens que decorrem desse processo, pois a Terceira Idade vem se afirmando entre os novos mercados potenciais em termos de crédito e consumo. 
E para pensarmos, deixo aqui algumas indagações: e o que dizer do papel dos meios de comunicação na afirmação de valores sociais e formas de comportamento que podem vir a influenciar uma decisão de investimento ou endividamento no caso desses indivíduos? Em que medida a mídia influencia as reflexões dos idosos que, conscientes ou inconscientes, visam o reconhecimento social e identitário a partir daquilo que eles produzem e consomem em sociedade? E os anseios de serem tratados e atendidos com dignidade?
Em minha opinião uma educação para o consumo consciente particularizada para o idoso tem como essência, primeiramente, a revalorização de suas próprias capacidades, com o intuito de incluí-los em uma sociedade moderna repleta de novas tecnologias e novos direitos, evitando que eles olhem, apenas com óculos do passado, ou seja, a proposição é a de pensar o envelhecimento de forma diferenciada.



Nenhum comentário:

Postar um comentário